sexta-feira, 17 de abril de 2009

Saída de Campo ao Vale do rio Antuã - Estarreja

A primeira semana de aulas começou da melhor maneira, para os alunos do 11º B da Escola Secundária de Estarreja. Providos de boa disposição contagiante, acompanharam-me no meu ambiente favorito de ensino-aprendizagem: o campo! A saída tinha vindo a ser preparada há uns meses. 

A preparação da saída de campo...

No laboratório, os alunos contactaram com materiais geológicos que iriam observar no campo, aprenderam em aulas teóricas e teórico-práticas os conceitos que estiveram em jogo no decorrer do evento e localizaram a área geográfica no Google Earth. Enfim, prepararam as âncoras conceptuais necessárias à compreensão e interpretação dos fenómenos observados na natureza. 


A saída de campo...






A aula no campo reuniu 26 aluno(a)s, relativamente interessados em aprender mais sobre o meio que os rodeia.  Ao longo de quatro estações de estudo, observaram processos e materiais relacionados com os subsistemas terrestres e respectivas interacções.



Estação 1 - O Caminho das Ribeiras





Extraordinário afloramento artificial de rochas xistosas, nomeadamente filádios com clorite, localizado a cerca de 20 m do leito do rio Antuã. Estas rochas estão deformadas e dispõem-se em estratos de inclinação subvertical. Estes diferem na cor e no teor de materiais finos constituintes (siltes e argilas). Este afloramento em forma de "L" apresenta-se sob a forma de duas escarpas: 
  • a Sul, sub-exposta à luz solar, com diversas nascentes, originadas a partir das águas de circulação subterrânea; nas zonas fracturadas de elevado teor hídrico proliferam diversas espécies de fetos e hepáticas;
  • a Este, exposta à luz solar na maior parte do dia, com superfície pouco alterada mas instável, devido à meteorização física e à acção gravítica.

Estação 2 - O Caminho da Lavoura




Corresponde a um antigo caminho florestal. Este assegurava a comunicação entre as zonas de cota baixa do leito de cheia do rio Antuã e os terrenos agrícolas de cota mais elevada. O desnível topográfico atravessa os xistos de Arada, em alguns sítios muito alterados, e depósitos sedimentares que os recobrem.  No sentido ascendente do percurso, observa-se:
  • a meteorização química do xistos e o seu desmantelamento por acção das raízes do coberto vegetal;
  •  a sobreposição gradual dos depósitos quaternários na superfície erosiva do xistos de Arada;
  • os depósitos quaternários, essencialmente arenosos e argilo-arenosos, com níveis conglomeráticos de clastos quartzíticos rolados e orientados; estes níveis incoerentes evidenciam igualmente a acção das raízes e das águas de escorrência superficial, as quais produzem microchaminés-de-fada em alguns pontos localizados.
Estação 3 - Turbina



Corresponde a uma antiga represa para aproveitamento hidroeléctrico do rio Antuã. Hoje abandonada, é uma das zonas do curso do rio onde se observa com maior facilidade a alteração dinâmica do leito de cheia e aparente do rio. Dependendo do caudal do rio e respectiva turbidez, é possível a observação de ripple marks no leito. As antigas instalações da turbina estão localizadas na margem côncava de um meandro. Com o tempo a degradação dessas instalações é, por isso, cada vez maior, correndo o risco de ruir nos próximos anos... A margem convexa engloba dois subambientes de deposição distintos:
  • barra de meandro arenosa;
  • planície de inundação silto-argilosa, separada do leito aparente pela barra de meandro.
Estação 4 - Ponte velha




Corresponde, igualmente a uma meandro do rio Antuã. Este está, na actualidade, mais intervencionado pelo Homem do que o anterior. O meandro é atravessado por uma estrada municipal, a qual é inundada periodicamente em períodos de cheia. É possível a observação da barra de meandro, na margem esquerda do rio, com ripple marks, canal de erosão, litoclastos, etc.

O que fazer depois da saída de campo?...

Os alunos irão integrar o que aprenderam de novo no "laboratório natural" e construirão conhecimentos muito mais abstractos, relacionados com a paleogeografia da área e respectiva história geológica, bem como hidrogeologia e exploração regional dos recursos geológicos. Naturalmente, farão juízos de valor que envolverão aprendizagens para a vida. A natureza tem muitas lições de vida para dar aos nossos jovens. Isso será tema para outra mensagem de blog...

1 comentário:

  1. Enhorabuena por tu trabajo y por el de tu alumna Raquel, que he leido en la RedBiogeo.
    Tengo envidia porque para mi cada vez es más difícil preparar salidas de campo y nunca las ha preparado a tu nivel.

    Mi admiración por tu último post.

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